sábado, setembro 20, 2008

Férias!

Merda para isso.

De há uns anos para cá deixei de ir de férias. Sempre que acabavam as férias custava-me imenso retomar o trabalho, passava o tempo a pensar em como era bom não fazer nada, como preferia estar de férias do que estar a trabalhar, os sentimentos típicos da ressaca. E sempre considerei que a culpa disto era do trabalho, porque trabalhar é seca! Isto, claro, até ler Platão.

Há um exemplo muito famoso de Platão, a Alegoria da Caverna. Nessa alegoria é retratada a situação de pessoas que desde a sua nascença se encontram imobilizadas numa gruta, viradas para uma parede sem hipótese de verem mais nada. Na entrada dessa gruta passa uma estrada movimentada, as vozes das pessoas que por lá passam ecoam na gruta e a sua sombra é projectada na parede. Como estão lá desde que nasceram, as pessoas que estão presas na gruta encaram as sombras e vozes que ouvem como a realidade do seu mundo, desconhecendo tudo o resto. Como não conhecem o mundo exterior, não o podem desejar.

Platão queria falar da incapacidade humana de percepcionar o mundo como ele realmente seria e da dificuldade que o homem comum teria em aceitar esse conhecimento, se tal lhe fosse passado por alguém com uma maior noção da realidade. Mas, eu acho que é uma alegoria muito mais bem empregue à época estival.

Ora, bem vindos à minha vida!

Agrilhoado a uma secretária, apenas com um monitor a passar imagens ténues de um vida à qual não tenho acesso, ir de férias, para mim, seria como se um dos presos da caverna fosse lá fora por 15 dias e depois o obrigassem a voltar para a caverna. É desumano. Ele era feliz antes, quando não conhecia mais nada para além da caverna. A ignorância é um paraíso.

O que concluo é que as férias servem apenas para nos lembrar o quanto a nossa vida não presta durante o resto do ano. O mesmo com as memórias de infância, apenas nos lembram que agora é tudo muito mais complicado. Não havendo férias um dia esqueço-me de como elas são boas e não fico a desejar essa vida. Se pudesse também trabalhava aos fins-de-semana e feriados.. mas nessa altura fecham-me a porta :(

5 comentários:

o karamelo disse...

É a ausência de férias que faz as pessoas encararem a sua própria vida desta forma ominosa. O Sr. Dr. Platão PhD, MsC, era, de resto, um famoso "workaholic".

Lembrem-se disto, jovens gafanhotos: sobrecarregar uma pessoa com trabalho é retirar-lhe espaço: espaço para pensar; espaço para se lembrar da sua identidade, de quem realmente é, e daquilo que lhe traz gosto de viver. É uma forma de lavagem cerebral, sobejamente conhecida pelos mais altos escalões da escada hierárquica que nos controla.

E quem vos controla?

Patrícia Villar disse...

"concluo é que as férias servem apenas para nos lembrar o quanto a nossa vida não presta durante o resto do ano."

Credo homem!!! Olha, bebe uns copitos que isso passa. Lool.

Beijinhos

Anónimo disse...

Há pior sentimento que esse. É teres férias numa altura em que mais ninguém tem. Então passas uma semana a "coçá-los", sem fazer nada, ao 2º dia estás a dar em doido e ficas com uma sensação de teres desperdiçado umas férias.

A disse...

oh, vocês só estão a olhar para o lado negativo da coisa. tudo bem que um ano inteiro a trabalhar parece medonho, mas depois habituavam-se a deixar de viver. a trabalhar apenas para comer, ver televisão e gerar descendência.

é o futuro! e a única coisa que o pode impedir é o acelerador de partículas do CERN.

beber uns copitos é uma necessidade tão forte como comer e gerar descendência. no caso da descendência, beber uns copitos pode até ser um requisito para que isso aconteça mais rápidamente.

há sentimentos piores que esse caro josué, que saúdo com a sua nova foto, ficar com a mão presa num triturador de carne, por exemplo.

Anónimo disse...

Tens azar, o LHC avariou! Só volta a estar operacional daqui a 2 meses.